Parece que começa a chover, o planejamento já não agrada tanto. O tempo fechado, o frio do inverno e um sem número de ruas infestam minhas idéias de forma que o pessimismo transborda de cada pensamento que eu arrisco construir. São ocasiões nas quais se continua por total falta de interesse em mudar qualquer coisa, falta de vontade de travar intensa e cansativa batalha contra a tênue inércia. É um princípio de preguiça, é uma gota de desespero contida no pingo de chuva.

Um exagero, claro, alguma idiotice. Mas se não se arrasta a linha do marasmo vez ou outra, ainda que por palavras, tudo perde o seu sentido - e o sentido é aquele que tudo tem em si mesmo.

Insira-se a descrição de um personagem. Torna-se o autor na visão que o outro gostaria de ter de um mundo em constante movimento que vez ou outra leva aqui, leva acolá, leva a lugar nenhum. Pode ser uma mulher, pode ser um velho, que seja uma criança. Que a criança tenha um balão e cruze o universo desta caminhada inócua na chuva e que isso passe a representar muito, muito mais do que de fato contém de representatividade. Que os detalhes sejam exaltados e contados a ponto de serem uma história por si só, por insignificante que seja. Já tens um conto.

Escrever é um ato de rebeldia, de violência às palavras - literatura é o estupro da língua, a gestação de algo que constrói, pouco informa, avança ao caráter funcional da comunicação. Mas enfim, apertou a chuva, há que correr.

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