Tristeza

Hoje eu descobri uma tristeza suprema. Tristeza que nem a bebida tem o poder de levar embora. Tristeza que assusta. Se a tristeza é a face oposta à felicidade, eu posso dizer com certeza que nunca tive um contraponto perfeito a este momentoe que num balanço geral, talvez minha vida seja triste.

Sinto dor mental e física, desespero aterrador. Não consigo dormir e nem pensar, me torno aos poucos escravo dos sentimentos e se isso já não é bom via de regra, quando os sentimentos são ruins, imagine.

Sinto vontade de não existir, o que já acontecera antes na minha vida, mas pela primeira vez é uma vontade recheada de argumentos e intenções. Antes me dava igual se os outros não existissem, mas dessa vez é a anulação da minha própria vida que me interessa. Suicídio não, idiotice, isso não apagaria o que passou, queria ser apagado em toda minha história e caminho, queria ser enterrado com cada uma das minha memórias porque ao mundo elas não interessam, à história, minha história é inócua, vazia, sem sentido (óbvio) e barata. Me sinto um reles personagem de um conto de qualquer coisa, em uma vida controlada pela mente de um autor qualquer, prestes a explodir por ter tanto o que dizer em um número demasiadamente limitado de páginas. E eu não tenho ninguém para ouvir, para dialogar, me sinto apenas meio ser, meio homem, meio tudo. Ou menos, quem sabe.

Eu sou menos e na minha fraqueza sou louco, sou pobre, sou ninguém. Sou um corpo desconhecido que cruza seu caminho na rua e, despercebido, desaparece. Mas eu não desapareço em verdade e aí está minha angústia. Queria existir no mundo como existo em sua lembrança, um vulto, um porém, um fim anunciado de uma idéia humana. Eu não sou pleno, eu não sou nada, nem o pó ao vento eu sou. Eu quero ser tanto e não sou nada, vivo de um sonho, mas o resto dos meus companheiros de espécie já acordou faz tempo. Eu sou e estou sozinho e meu calvário é não suportar a mim mesmo. É ser este lixo e tentar evitar meu próprio odor, é ser nada e ter consciência, divagando eternamente por um espaço e por um tempo que não me pertencem e que a mim não tem solidariedade. Eu sou morte enquanto vida, ainda que nem haja descoberto quem eu sou. E nem sei se sou. Sou? Será?

Comentários

Luciano Pyw disse…
Dá ora dizer exatamente o que aconteceu? (Apesar de ser bem fácil de imaginar)

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