Escravidão


Vez ou outra me conforta pensar em ti. Pensar que já fui dono de toda uma liberdade (ou que ela se apoderou de mim, haverá diferença?). Me afasta um pouco deste acre odor do fim da vida. Pensar que perambulamos por caminhos mil, por infinitos anátemas de sonhos hereges. Que montamos castelos, que sentimos o sabor da paz, que fizemos labirintos nas areias em dias nublados. Fica fácil lembrar, perdido no meio de tanta mesmice, de montanhas de obrigações e de um testamento a escrever. O que deixar a filhos que nada merecem, que usurparam minha juventude e que não honram as horas de sono de que abdiquei por cada um deles. Prefiro me confortar nesta fortaleza de negação que são os momentos que passei ao teu lado. Fortunas gastei com meretrizes, tentativas vãs de simular os prazeres proibidos que tive ao teu lado. Foste a puta das putas, a vadia que permanece a atormentar a mediocridade que seguiu. Um mar de insignificâncias, atormentadas por ti, destruidora da paciência, da acomodação. Deste um sopro de esperança para algo que se desenvolve em pleno declínio.

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