O Muro

Havia muito tempo que Thomas passava pelo muro. Estava lá, separando o mundo de um terreno inerte. O muro, não Thomas.

- Puta espaço pros MST invadir - dizia Thomas a seus vizinhos.

De fato, por detrás do concreto não havia nada senão os sonhos dos desocupados de construir um estacionamento, supermercado ou lava-rápido. Mas Thomas acreditava que eram somente planos de mesa de bar.

Dentro do terreno nosso personagem construíra boa parte de sua história infantil. Perdera sua virgindade, quando do seu estupro pelo tio, fumara maconha pela primeira e subsequentes vezes, provara da heroína, matara seu primeiro gato e seu terceiro homem, violentara uma colegial antes de sufocá-la e vira as estrelas que o puseram a sonhar com a paz.

Mas a bem da verdade, o muro era alto. Uns 4 metros talvez, e não fosse por um buraco no canto, jamais alguém haveria entrado no dito terreno para o bem ou para o mal. E numa noite, talvez pelo efeito das drogas, talvez pelo do álcool, Thomas decidiu que entraria na área subindo o muro.

- Tu vai é cair, seu idiota - profetizou seu amigo Zé.

- Eu caio mas não me machuco - argumentou sabiamente Thomas.

Assim, o rapaz arrumou uma escada e, cambaleando - tanto ele como a escada-, chegou ao topo do muro - ou seria do mundo?

Mas já não havia mais terreno à vista. Não havia o conhecido mato e nem um fim para a visão. Ao olhar para baixo não havia mais muro e nem escada. Não havia mais história atrás de Thomas. Nem sua embriaguez se manifestava mais, apenas uma gota de perplexidade.

E ali ficou ele, sem ter para onde ou como ir. Sem passado, sem futuro, sem nada. Sozinho e alheio ao espaço e ao tempo.

Comentários

Este comentário foi removido pelo autor.
Ana disse…
Realmente tu conseguistes ser mto autobiográfico...a riqueza de detalhes da tua vida impressiona, bom que tu superaste o trauma do tio...mtas repetições indevidas, Thomas? Mto Kundera...Mas ainda melhor que Paulo Coelho... kidding, um pouco surreal mas tri

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