Notas filosóficas I - Dualidade Humana

É um dado que o ser humano se caracteriza por um elemento marcante que o divide entre seu construto racional e o emocional.

A Razão é de simples análise e leva em conta os aspectos conscientes do homem, sua noção de moral e ética, certo e errado, custo benefício e avaliação de informações disponíveis para a tomada de decisões.

Mas as emoções merecem uma explanação em maior profundidade. São elas inerentes ao homem? Não, penso diferente. Emoções são a expressão de nossas atividades hormonais, ou seja, aquelas que dirigem nossos instintos e que estão, em grande parte, dissociadas da nossa razão. Amor materno eu pensei em excluir desta definição, mas me parece que sua incondicionalidade se dá devido à necessidade premente ao inconsciente individual de manter a espécie vivendo (as aberrações são raras em termos absolutos da população), o que substitui o amor pelo outro (instinto de reprodução), bem como a paixão (o mais animal dos nossos "gritos" emocionais/hormonais). Amizade é a identificação de grupos de sobrevivência: assim como os lobos, somos seres gregários, porque somos fracos indivualmente no ambiente que habitamos.

Partindo destes pressupostos básicos, postulo que a felicidade, no homem, é inversamente proporcional ao seu nível de desenvolvimento intelectual (não em intensidade da felicidade, mas em termos de recorrência deste sentimento). Isto porque a interação entre razão e emoção é comumente desastrosa, uma vez que o instinto é sempre de força maior (somos animais, afinal) e a consciência da nossa estupidez frente às situações mais banais é patética e angustiante.

Percebo, também, uma potencialização desta incongruência entre os construtos propostos para situações de morte (o despertar do mais profundo e eloqüente instinto - o de sobrevivência). Não apenas a morte em seu sentido material, mas a morte existencial que também nos assola em face da perda de momentos, pessoas e coisas (daí a origem do ciúme, do sentimento de perda, da saudade, da nostalgia). A razão reconhece que Panta Rei Oudem Menei, mas os sentimentos não diminuem, permanecem assombrando a razão.

E quão assoladora pode ser esta impotência! A loucura parece ser a única saída enquanto o tempo não passa e alivia a maré de hormônios que ondulam por nosso corpo.

Não à toa, Nietszche morreu louco. Tanta sabedoria em uma pessoa tão falida sentimentalmente. Imagino a angústia de tão brilhante cérebro ao ser dominado pelos mais pueris e desimportantes sentimentos.

Dualidade esta que, note-se, não ocorre com os animais. Não há a razão, a comparatividade de eventos sob a ótica intelectual. Só há aquele instante em que vive, nada antes, nada depois e nem nada ao seu redor. São hormônios perambulantes, alheios a qualquer avaliação sobre qualquer coisa. Alvos fáceis da felicidade. Mas é do seu merecimento, são inerentemente bons.

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