Adolescência

De Abril de 2005.

"Eu tinha 15 anos. Malditos quinze anos, eu tinha perna fina, amigos playboys e achava que estudar era necessário. Só uns anos depois fui partilhar do ponto de vista do Bernard Shaw de que a escola é uma perda de tempo e eu poderia ter aprendido muito mais fora lá. Mas tudo bem....
Eu era apaixonado por uma menina. Acho que vem dessas época minha paixão por me apaixonar. E eu era um tremendo dum careta, ainda não dependente do álcool e do cigarro, extremamente introvertido e com um tremendo medo da rejeição alheia, apesar de eu ter sido sempre meu maior crítico.
Esperei o dia certo para dizê-la da minha infinita paixão, de que o futuro não existia para mim sem ela, de que eu ouvia pássaros cantarem ao ouvir sua voz e essas coisas estúpidas que a gente aprende em livros de poesias recomendados por professores semi-analfabetos.
Preparei-me então para o momento. Escolhi meus melhores CDs, que naqueles tempos correspondiam a alguma coletânea do Brian Adams, Celine Dion, um ou outro das Spice Girls e mais uns da minha irmã que tinha viajado, eu acho.
Disquei o telefone. Minhas bambas finas pernas eram o retrato do meu inevitável fracasso. Quando se fala com uma mulher com insegurança tu tem uma grande chance de estar pedindo desculpas antes e depois de qualquer palavras emitida, fazendo a mulher te achar um emasculado e faz teu pescoço se curvar mais e mais até tu estar com dificuldade de falar pelo fato do teu queixo estar batendo no peito.
Falei com ela durante horas. Tomei coragem para dizê-la então do épico sentimento que aflorara no meu peito:
- Eu tenho Aids. - Foi o que eu disse. Eu não sabia, mas não podia dizer a verdade. Inventei uma mentira absurda que só me é útil para fazer meia dúzia de bêbados companheiros rir em algum boteco de cerveja barata e morna.
Nunca mais falei com ela. Fiquei sabendo anos depois que ela também gostava de mim também. Foda-se. Anti-heroísmo não é uma escolha, é uma característica. E eu to vivo ainda."

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