Circunstancial

Não me pode ser vendida esta idéia de que a vida tem um sentido. Ou de que somos a imagem e semelhança, criação mestra, de um suposto deus que eu me recuso a grafar com inicial maiúscula. A vida humana, a vida em geral, como a concebemos é fruto de uma aleatoriedade, tão importante quanto o pó e tão presente no universo quanto uma concha no oceano.

Ora, senão vejamos, uma centena de milhares de quilômetros, medida ínfima na vastidão de um universo em expansão seria o deslocamento necessário para que o planeta azul se tornasse inabitável para os seres. Um choque meteórico, improvável, mas possível, teria o mesmo resultado. A vida terrestre, assim, ocorre por uma conjunção de elementos químicos e dinâmicas físicas em uma faixa de temperatura que dá suporte a toda essa existência. E um dia não dará mais, mutação constante do entorno, determinando nossa finitude e escrevendo nos anais não-escritos da não-história das dimensões que entendemos estarem à nossa volta menos que uma letra. Estaremos representados por uma fração infinitesimal de segundo no gigantesco relógio da não-existência.

Então, vida é uma conjunção de circunstâncias. O que há de etéreo é a energia. Átomos em rotação acelerada e ininterrupta, sem destino, sem função, sem sentido metafísico.

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