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Sobre o que se sente

2 horas da manhã e uma infinidade de sonhos despertos. Recheado de uma esperança que perambula pelos limites da razão e da magia infantil, toma sua caneta e se põe a escrever. 10 mil milhas de solidão, 10 mil anos de um coração partido se desmanchando sobre uma folha de papel. E nada. Remete seu sentimento aos mais incríveis e épicos contos, mas as palavras que lhe saem são medíocres e incapaz de conduzir o mais sensível leitor a qualquer coisa que não a ampla indiferença. Sentimento que transborda, que jorra em cada ato seu. E da ponta da caneta, nada. Transtorna-se em tal incapacidade. Embriaga-se. Dorme. Desperta. Vive angústia de um amor que lhe consome em cada simples gesto e que jamais será transmitido, morrerá um pouco a cada dia (como há de ocorrer com qualquer amor) e será definitivamente esquecido, apagado, desimportante. Gerações e gerações virão e amores triviais serão comparados àqueles diferentes, grandes, majestosos, pela total inabilidade do amante em transmitir pela p...

Sobre a(s) Figura(s) Divina(s)

Deus. Deuses. Em capitais apenas por principiarem sentenças, refiro-me às figuras divinas às quais a humanidade recorre ininterruptamente em desespero solene. Ícones diminuídos, já não onipotentes, representativas dos limites cognitivos conhecidos. Explico: séculos atrás, milênios, os deuses responsáveis por tudo eram. Deuses da chuva, da colheita, do sexo, do amor, deuses parciais, deuses supremos. Desde os primórdios são eles os baluartes do desconhecido, do inexplicado, da preguiça mental. Mentes inquietas, insatisfeitas empurraram e derrubaram dogmas avançando nos mais diversos campos das ciências naturais a partir dos primeiros desenvolvimentos da filosofia organizada como manifesto social. A infantilidade sublime de perguntar "mas por quê?" e de não aceitar a explicação mais fácil, mais poética, mais promissora. A vontade de saber, de aprender e gerar conhecimento é também a busca infindável pelo desalento, pela materialidade da vida. Em poucas décadas descobrimos que a...

Notas

10 horas da manhã. Despertava com as mágoas que seu corpo lhe infligia depois do uso exacerbado que fizera dele na noite anterior. Fumava o último cigarro restante enquanto contava as moedas para o próximo maço. Escrevia alguns pensamentos nas costas de algum documento que deveria ter alguma importância, mas que não a recebia. O frescor do outono lhe trazia certa calma enquanto cruzava o parque del oeste em sua busca por um pouco menos de dormência espiritual e alguma gramas concentradas de tabaco. Impossível não refletir. Traíra aos seus próprios princípios por um amor que não mais existia e que, de fato, jamais deveria ter acontecido. Colocava-se em pé de igualdade com o imigrante triste que naquela altura da manhã já empilhava três garrafas de cerveja sobre o balcão. Éramos todos ratos naqueles dias, sempre atrás de algo mais para fornecer algum prazer sensorial. Mas nada acontecia e nada estava prestes a acontecer. Recolheu-se novamente ao seu quarto e escrevinhou mais algumas idéi...

Pesadelo

É inevitável pensar que num momento desses gostaria que toda a existência tivesse sua realidade extinta num despertar de um pesadelo, revelando ao ser antes adormecido a total intangibilidade de todo o mal que lhe passou, o acalmando sua vida em um simples abrir de olhos. Mas não, a realidade pode ser muito mais acre que o o pior pesadelo e ser imutável, proporcionando desespero sem fim, sem alento, sem recuperação, sem segunda chance, sem o menor motivo que pareça lhe justificar o ato de viver. Condenem-me pelo excesso de dramaticidade, eu próprio também o faço. Mas o que eu sinto é inevitável e infinitamente doloroso, então, por que não expressá-lo? E continuo caminhando, contra o vento, contra a chuva, sem ter onde chegar e sem parar apenas por saber ficar estático a nada resolve. Mas e o que resolve? Nem sei por que ando. Nem sei por que vou. Nem para onde.

Pessoas

6 bilhões de seres humanos no planeta. Nunca sabemos quantas e quais dessas pessoas irão de fato cruzar nosso caminho e fazer alguma diferença nele. Algumas dessas pessoas permanecem em nossas vidas, outras se vão e voltam, outras nunca voltam. Há algumas que a distância é dolorosa e outras que ela é insuportável. E é justamente neste último caso que quero me concentrar: as pessoas relevantes na nossa vida as quais sua não-presença no nosso dia-a-dia é simplesmente e inconcebivelmente dolorosa. Eu tive uma pessoa assim em minha vida. Pergunto por que, hoje, estando muito mais próximo geograficamente dela do que estive por muito tempo, me sinto mais distante. Mas essa resposta é óbvia demais e nem merece ser explorada, usem sua criatividade e encontrarão uma resposta que vos satisfaça. Mas por que ela? Do lado dela eu me senti em paz comigo mesmo pela primeira vez na vida. Uma paz que eu desconhecia, uma liberdade que me permitia viajar pelo espaço e pelo tempo em uma troca de olhares. ...

Chega!

Minha vida acaba aqui. De agora em diante eu existo apenas e nada mais. Eu não tenho vida e nunca tive ou ao menos nunca deveria ter tido. Tudo que eu fiz até agora foi um desenvolvimento completo de erros um atrás do outro e chega disso, não quero mais tomar decisões ou me envolver com alguém. A mim me basta a mim mesmo porque é inevitável. Tudo que eu tenho é a incapacidade de ser alguma coisa. A incapacidade de ser feliz e daí vêm todas minhas críticas à felicidade. Incapacidade de ser humano o que me leva a criticar a tudo e a todos ao meu redor. Eu queria ser o fim e terminar logo, mas tudo continua se repetindo dia após dias, vez após vez, segundo após segundo e nunca acaba. Eu desisto e ao desistir eu desisto de tudo e de mim mesmo. Desisto de tentar explicar o caos deprimente que afunda meus pensamentos, sentimentos e tudo o mais. Eu estou fadado a existir nesta infinita miséria na qual me encerro. Tu dizes que me ama e eu te admiro por ao menos saber o que é o amor. Eu descobr...

Tristeza

Hoje eu descobri uma tristeza suprema. Tristeza que nem a bebida tem o poder de levar embora. Tristeza que assusta. Se a tristeza é a face oposta à felicidade, eu posso dizer com certeza que nunca tive um contraponto perfeito a este momentoe que num balanço geral, talvez minha vida seja triste. Sinto dor mental e física, desespero aterrador. Não consigo dormir e nem pensar, me torno aos poucos escravo dos sentimentos e se isso já não é bom via de regra, quando os sentimentos são ruins, imagine. Sinto vontade de não existir, o que já acontecera antes na minha vida, mas pela primeira vez é uma vontade recheada de argumentos e intenções. Antes me dava igual se os outros não existissem, mas dessa vez é a anulação da minha própria vida que me interessa. Suicídio não, idiotice, isso não apagaria o que passou, queria ser apagado em toda minha história e caminho, queria ser enterrado com cada uma das minha memórias porque ao mundo elas não interessam, à história, minha história é inócua, vazia...